A NECESSIDADE DE HIROSHIMA E NAGASAKI
Por Daniel Montarroyos
Faz parte da ladainha esquerdopata, principalmente na América Latina, o discurso antiamericanista, atribuindo aos Estados Unidos todos os males do mundo moderno. Dentre as alternativas de potências imperiais que surgiram e continuam a surgir nesse século XX, como a União Soviética e a China, não tenho dúvida que a melhor opção continua a ser, sobre todos os aspectos, o bom e velho Tio Sam.
Serei acusado, mais uma vez na ladainha esquerdista, de capacho dos Estados Unidos, colonizado, e outros adjetivos que procurarão ofender inclusive a minha masculinidade e honra. É curioso que essas acusações partam de pessoas que viram na URSS um modelo de sociedade ideal e continuam a cortejar e enaltecer as mais cruéis ditaduras do mundo do hoje (exemplos de Cuba e Venezuela). Mais curioso ainda é que nenhum desses arautos antiamericanos querem se estabelecer e residir nas nações que utilizam como exemplo de justiça social.
Essa introdução se faz necessária já que tratarei de tema, apesar de muito discutido, ainda bastante polêmico: o lançamento das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki. Tentarei levantar aqui algumas questões para reflexão sobre o tema.
1. O Expansionismo Imperial Japonês
O Japão da primeira metade do século passado era governado por um imperador visto pelo seu povo como um deus vivo. Assim, seguiram cegamente o plano expansionista, militarista, imperialista e racista de Hiroito. Racista sim, pois assim como os alemães, havia a crença generalizada na superioridade racial japonesa diante das outras “sub-raças” orientais. Assim, antes da guerra estourar o Japão já havia invadido a Coréia, Taiwan (então pertencente a China), o leste da China continental e as Filipinas.
Todas essas conquistas territoriais foram feitas a custa de muito sangue, inclusive de civis. Fala-se muito das atrocidades nazistas nos países ocupados da Europa mas pouco se comenta sobre os crimes cometidos pelos exércitos de ocupação japonesa. Lembrem-se do Massacre de Nanquim quando, segundo estimativas conservadoras, o exército imperial japonês matou em seis semanas de ocupação aproximadamente 200.000 a 300.000 pessoas. Não estamos falando de mortes em combate e sim execuções, torturas e decapitações. Sem contar outras centenas de milhares de mulheres que foram estupradas na frente de seus familiares e/ou levadas como escravas sexuais.
Diante de tudo isso vimos manifestações de repulsa do povo japonês? Protestos contra essas atrocidades? Pelo contrário, esse povo exultava diante das conquistas gloriosas do seu Deus-Imperador.
Extensão do Império Japonês em 1942
2. Quem começou?
A Liga das Nações condenou e exigiu do Japão a libertação dos territórios ocupados. A resposta do Japão foi retirar-se dessa organização e aliar-se à Itália e Alemanha, formando o Eixo. Em resposta a política expansionista japonesa, que ameaça os interesses econômicos norte-americanos na região, os Estados Unidos declaram embargo de metais e petróleo ao Japão (80% do petróleo japonês vinha dos Estados Unidos). Enquanto os dois países aparentemente negociavam uma saída para a crise o Japão organizava seu ataque a base naval de Pearl Harbor, no Hawaí, que concretizou-se no dia 7 de dezembro de 1941. Portanto, o primeiro ato de violência partiu claramente do governo imperial japonês.
USS Arizona atingido por aviões japoneses na base de Pearl Harbo
3. Kamikaze
Quando a guerra já estava irremediavelmente perdida para o Japão, este continuava a lançar seus jovens em ataques suicidas contra as tropas americanas. Era o velho espírito samurai,de não aceitar a derrota e a rendição como opções. Um exemplo que todos conhecem é a dos pilotos Kamikazes, que jogavam seus aviões contra as embarcações norte-americanas, causando muitos estragos, é verdade, mas sem em nada alterar o rumo da guerra. Fato que qualquer estudioso da Grande Guerra conhece é o desprezo que os japoneses nutriam pelos seus pares que se deixavam aprisionar. Os prisioneiros que os aliados fizeram no oriente eram vistos como traidores que não foram capaz de lutar até a morte pelo imperador. Falando em prisioneiros....
4. Holocausto Japonês
Historiadores hoje calculam entre 20 e 30 milhões o número de filipinos, malaios, vietnamitas cambojanos, bumeses e indonésios assassinados pelas tropas japonesas, e mais 23 milhões de chineses étnicos. A pilhagem sobre os territórios ocupados e o número de vítimas faz com que o japão se iguale e até, ousaria falar, supere em crueldade os regimes nazistas. Torturas, experiências com seres humanos, estupros em massa e outros atos hediondos não são, de forma nenhuma, exclusividade dos nazistas. Parece que a bomba atômica expurgou todos os pecados japoneses.
O governo japonês fala em alguns excessos cometidos pela tropa mas nunca fez um pedido formal de desculpa aos países e povos arrasados.
5. A Bomba Economizou Vidas
Para muita gente o lançamento das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki não passou de um ato de intimidação contra os soviéticos. Assim, o povo japonês não passou de cobaia e exemplo do poderio militar americano. Os que defendem essa ideia, afirmam que a rendição do Japão, agora sozinho no conflito, era apenas uma questão de tempo. Que as autoridades japonesas estavam dispostas a negociar uma rendição.
Afirmações como estas só podem ser atribuídas a mentes criativas ou doentes, que com mentiras procuram justificar a todo custo suas teses. Desafio qualquer um a demonstrar uma afirmação, um sinal, por menor que seja, de que as autoridades japonesas estavam dispostas a negociar a rendição. O que se via era um governo, e um povo, que a medida que a guerra avançava sobre “o solo sagrado do Japão”, lutavam cada vez mais obstinadamente (para não utilizar o termo fanaticamente). A partir de 1944, por exemplo, jovens que formavam a elite dos aviadores japoneses começaram a se lançar como bombas humanas, no que foi chamado de ataque Kamikaze. Recusar-se a defender com a vida o “Império do Sol Nascente” levava a uma inevitável pena de morte e o pior, a desonra completa do indivíduo e da família.
As batalhas de Iwo Jima e Okinawa são exemplos claro do que aconteceria se os soldados americanos tentassem a invasão do Japão por meios convencionais. Especialistas americanos calcularam, na época, entre 500.000 e 1.000.000 o número de soldados americanos mortos nessa empreitada. Imaginemos então o número de vítimas no lado nipônico. Os planejadores mais otimistas das forças armadas americanas calculavam que sema bomba a guerra não terminaria antes de 1947, ou seja, estendendo-se no mínimo por mais dois anos.