Processo de Industrialização do Brasil

O Brasil é um país de industrialização tardia, pois foi apenas no final do século XIX que iniciou um processo de industrialização, portanto, cerca de 100 anos depois das nações europias e dos Estados Unidos. Podemos dividir a industrialização do Brasil em várias etapas. É isso que iremos ver agora.

 

Período Colonial

Durante o período colonial brasileiro a atividade de produção de mercadorias era vedado pela Coroa Portuguesa. Podemos dizer que Portugal tinha dois bons motivos para não querer um Brasil industrializado. Eram eles:

- Os produtos fabricados aqui iriam competir com os produtos que vinham de Portugal, que tinha o monopólio sobre o comércio exterior da colônia;

- Caso o Brasil vinhesse a se industrializar, tornando-se economicamente independente de Portugal, isso seria um passo para lutar por sua independência. Isso, inclusive, já tinha acontecido com os Estados Unidos da América e sua independência da Inglaterra.

 

A Vinda da Família Real


Em 1808, Napoleão Bonaparte invade o reino de Portugal quando o Principe Regente D. João VI se recusa a aderir ao bloqueio comercial que os franceses impuseram à Inglaterra. Acredita-se que a primeira leva de refugiados era composta de 15 mil pessoas, incluindo a família real, boa parte da nobreza e empregados.

 

Príncipe Regente de Portugal e toda a Família Real embarcando para Brasil no cais de Belém

Henry L'Évêque (1768-1845)

 

Agora, com a chegada de D. João VI, Principe Regente que governava em nome de sua mãe D. Maria I, o Brasil passou a ser a sede do império português. Uma das principais medidas tomadas por D. João IV foi a revogação da lei que proibia atividades industriais no Brasil. A medida, no entanto, não surtiu muito efeito pois os produtos ingleses, mais sofisticados e relativamente mais baratos, chegavam ao Brasil em grande quantidade. Como um novo fabricante brasileiro, ainda engatinhando na produção, poderia competir com os artigos da maior potência tecnológica e industrial daquela época? Resumindo, tirando duas fábricas  de ferro, uma em Minas Gerais e outra em São Paulo, nada mais aconteceu em relação ao processo de industrialização.

 

Final do século XIX até 1930

Esse é o período em que de fato o Brasil começa a se industrializar. Isso se deu tanto por fatores internos, quanto por fatores externos. São esses fatores que veremos a partir de agora.

a) Acúmulo de capitais do café - Na segunda metade do século XIX o café era o principal produto de exportação brasileiro, e o país era o maior produtor mundial. Formou-se com isso uma elite cafeeira na região Sudeste e parte da região Sul que tornou-se detentora do poder econômico e político do país. Alguns desses "barões" do café usaram parte dos enormes capitais adquiridos para a construção de fábricas, buscando alternar um pouco seus investimentos. Foram homens enriquecidos pelo café que investiram em algumas das primeiras fábricas do Brasil.

b) Instalação de uma moderna infra-estrutura de portos e ferrovias - Esse é outro fator ligado à produção de café. Para escoar a produção do interior e exportá-la, foi instalada na região Sudeste uma malha ferroviária e melhorou-se os principais portos (Santos e Rio de Janeiro). Essa infra-estrutura foi usada mais tarde para o transporte dos produtos industriais e matérias-primas.

 

Anúncio público da companhia São Paulo Railway Company

marcando o início de suas atividades de transportes

de pessoas e mercadorias entre o interior de São Paulo

e o porto de Santos

 

c) Formação de um mercado interno de consumo - Desde 1850, pela lei Euzébio de Queiros, estava proibido o tráfico de escravos no Brasil. Nas décadas seguintes a escravidão foi sendo paulatinamente substituída pelo trabalho assalariado, permitindo que se criasse um maior número de consumidores no país.

d) Chegada dos imigrantes europeus - a proibição do tráfico de escravos, e em 1888, a abolição da própria escravidão estimulou a vinda de imigrantes estrangeiros, principalmente europeus, para o país. Muitos desses imigrantes já tinham experiência no trabalho em fábricas de seus países de origem, e foram também empregados na nascente indústria nacional. Além disso, ajudaram a aumentar o mercado consumidor interno.

e) A Primeira Guerra Mundial (1914-1915) - Durante a Primeira Guerra Mundial, alguns dos principais fornecedores de produtos industrializados que eram importados pelo Brasil ficaram impedidos pelo esforço de guerra, tendo sua indústria se voltado para o suprir as necessidades do conflito. Isso acabou estimulando a implantação de fábricas no Brasil.


Por volta de 1930, o Brasil já contava com várias fábricas, principalmente de bens de consumo não duráveis como calçados, alimentos, roupas etc. Esse momento marcou o fim da primeira fase da industrialização brasileira, que por ter ocorrido com grande atraso em relação aos países industrializados europeus, foi caracterizada como historicamente tardia.

 

De 1930 até 1956

 

Esse período foi marcado pela aceleração da industrialização. A agricultura de exportação foi deixando de ser a principal atividade econômica do pais, e a elite agrária foi perdendo poder político.

Em 1929, o mundo capitalista foi abalado pela grande crise econômica que iniciou-se nos Estados Unidos. Isso afetou diretamente o país quando as exportações de café, o principal produto da nossa economia, caíram drasticamente e diversas fazendas fecharam. No entanto, essa crise favoreceu nossa industrialização quando muitos fazendeiros de café resolveram diversificar seus negócios, investindo em indústrias.

A nova linha de governo que iniciou-se em 1930, período conhecido como Era Vargas, também colaborou. O Estado passou a investir em infraestrutura (energia, transporte e telecomunicações) e praticou uma política de elevados impostos de importação, favorecendo os produtos nacionais. Isso inclusive estimulou diversas multinacionais a abrirem unidades dentro do país, de olho no nosso mercado consumidor.

 

Getúlio Vargas, pai do processo de industrialização e modernização do Brasil

 

Também teve a importância da Segunda Guerra Mundial. Assim como na Primeira Guerra, os países envolvidos no conflito direcionaram suas indústrias à produção de material bélico, e tivemos dificuldade de importar diversos produtos. Sem a intensa concorrência dos importados, muitas novas fábricas surgem no Brasil. Além disso, em troca do apoio do Brasil na Segunda Guerra, Vargas conseguiu financiamento dos Estados Unidos para investir na nossa indústria de base e na nossa infraestrutura.

 

De 1956 até 1980

 

Esse período começa com o início do mandato de Juscelino kubitschek (JK) como presidente do Brasil. Ele tinha uma obsessão em transformar o Brasil em um país industrializado e moderno, tendo como lema de seu governo “50 em 5”, ou seja, que faria o Brasil cresce em 5 anos o que normalmente levaria 50.

Para isso, JK lança o seu ambicioso Plano de Metas, que consistia em direcionar os investimentos públicos para setores prioritários que levariam ao desenvolvimento do país. Mais de dois terços desses investimentos foram direcionados para modernizar nossa infraestrutura, principalmente energia elétrica, produção de petróleo e aberturas de estradas. A abertura de rodovias interligando o país fazia parte também do projeto de trazer para as grandes montadoras de veículos, o que acabou acontecendo. Infelizmente, houve um abandono da rede ferroviária que perpetuou-se até os dias atuais e, como sabemos, esse modelo de transporte é mais eficiente do que o rodoviário para o transporte de mercadorias à longa distância.

 

JK inaugurando fábrica da Mercedes em SP

Trazer multinacionais para o Brasil fazia parte do 

seu projeto desenvolvimentista

 

O período do governo JK foi de grande desenvolvimento industrial do país, com a indústria de bens de consumo crescendo 63% e a de bens de produção crescendo 370%. Além das indústrias automobilísticas que já citamos, diversas outras multinacionais abriram unidades no Brasil. A maior parte dessas empresas vieram dos Estados Unidos (48%), que no pós-guerra assumiu a liderança absoluta do bloco de países capitalistas como maior potência econômica mundial. Junto com as suas fábricas, as multinacionais lançaram intensas campanhas de marketing visando criar novas necessidades de consumo, convencendo as pessoas de como suas vidas seriam maravilhosas se tivessem seus produtos. Milhões de famílias brasileiras passaram a sonhar com um carro ou com os eletrodomésticos que já existiam nos lares do primeiro mundo. Era a estratégia dos Estados Unidos de difundir pelo mundo seu “American Way of Life”.

Como você á estudou nas suas aulas de história, em 1964 os militares derrubam o presidente João Goulart e estabelecem um regime de governo ditatorial que vai até 1985. Podemos dizer que do ponto da política econômica o período militar manteve as diretrizes de JK, ou seja, o estado buscando investir em infraestrutura e procurando atrair empresas multinacionais para o país.

Dois pontos negativos podemos lançar sobre a política econômica do período militar:

 

- A elevada concentração de renda, que até aumentou no período;

 

- O crescimento acentuado da nossa dívida externa, pois não tendo recursos próprios para realizar os investimentos em infraestrutura que eram necessários, o governo brasileiro pegou elevados empréstimos, com altas taxas de juros, com países e bancos estrangeiros.

 

Década de 1980

 

A década de 1980 foi apelidada de a “década perdida” para a economia brasileira. O elevado endividamento externo que citamos a pouco, usado para custear os investimentos do governo, começaram a pesar. Com o aumento dos juros pelos Estados Unidos, no final da década de 1970, a nossa dívida deu um salto extraordinário. O governo fazia sacrifícios para pagar os juros dessa dívida e continuar rolando ela, mas com isso faltavam recursos para novos investimentos em infraestrutura e na área social (saúde, educação, habitação etc). A economia crescia pouco, e em alguns anos até retrocedeu, mas a população continuava aumentando, e milhões de jovens entravam em idade produtiva sem conseguir trabalho.

Por outro lado, as antigas medidas protecionistas com elevadas tarifas de importação, que durante décadas favoreceu o aparecimento de uma indústria nacional, agora tinha virado um problema. Essa indústria, protegida da concorrência externa, não acompanhou os avanços dos processos produtivos e nem procurou melhorar a qualidade dos seus produtos. Assim, ficamos extremamente defasados em relação às indústrias estrangeiras.

Podemos dizer que na década de 1980 completamos, mais uma vez com atraso, a nossa segunda fase da industrialização, possuindo um parque industrial considerável de bens de consumo e bens de produção

 

Da década de 1990 aos dias atuais

 

A partir de 1990, com o governo de Fernando Collor de Melo, o país mudou sua orientação econômica, adotando políticas de liberalização da economia. Essa política foi continuada pelos presidentes que o sucederam, e mesmo o PT (Partido dos Trabalhadores), que historicamente era contra essas medidas em seus discursos, na verdade manteve essa mesma política quando chegou ao poder em 2003.

Mais que mudança foi essa? Passou a predominar a ideia de que o Estado brasileiro estava extremamente inchado, com numerosas estatais ineficientes. Além disso, a prática do protecionismo econômico, como já falamos, passou a ser encarada pelos dirigentes políticos como fator do nosso atraso frente às empresas internacionais.

Para combater o primeiro problema o governo iniciou uma série de privatizações1, visando transferir à iniciativa privada setores que eram monopólio do Estado. Assim foram vendidas empresa como a Vasp (aviação), Companhia Siderúrgica Nacional (siderurgia), Usiminas (siderurgia), Telebras (telecomunicações), Companhia Vale do Rio Doce (mineração), sem contar as concessões para empresa privadas administrarem portos, aeroportos, ferrovias e rodovias do país.

 

Confronto entre PM e manifestantes contra a

privatização da Vale do Rio Doce (1997)

 

O problema do atraso tecnológico da nossa indústria foi combatido com a redução das tarifas de exportação, o que inundou nossos mercados com produtos do exterior. Isso levou a que muitas empresas nacionais, despreparadas para essa concorrência, fossem a falência. Outras conseguiram se modernizar, se adaptando aos novos tempos.

Podemos dizer que nos anos 1990 começamos, mais uma vez com atraso, a nossa terceira fase da industrialização, agora o que ficou conhecido como Revolução Técnico-científica, onde a robotização e a automação industrial ganham cada vez mais importância. Os setores de destaque nessa nova fase são o da informática, da microeletrônica, da biotecnologia, da informação e da química fina. Veja que a quase totalidade desses setores econômicos que encontramos no Brasil estão relacionados às multinacionais, ou seja, somos simples consumidores das tecnologias criadas lá fora.

Os principais problemas apontados pelos especialistas para a completa inserção do Brasil na 3° Revolução Industrial são:

 

- A elevada dívida pública interna e externa – Os compromissos em pagar parcelas e juros dessa dívida tira um dinheiro importante que poderia ser aplicado na educação e na pesquisa científica e tecnológica.

 

- O mau uso do dinheiro público – Todos os dias vemos notícias de corrupção nas diferentes esferas do governo. Se todo o dinheiro desviado fosse aplicado na infraestrutura e na ciência e pesquisa, o nosso país daria um salto enorme de qualidade.

 

- Falta de integração universidades-empresas – No Brasil existe uma dificuldade de integração entre as universidades e as empresas, com algumas raras exceções. A iniciativa privada deveria financiar mais pesquisa científicas nas universidades, podendo aproveitar-se das novas descobertas.

 

- O elevado custo Brasil – Nesse ponto está todo o conjunto de dificuldades como a excessiva burocracia, a corrupção, a infraestrutura deficiente, a baixa escolaridade e consequente mão de obra mal qualificada, os elevados impostos, dentre outros problemas que entravam o desenvolvimento nacional e encarecem nossos produtos em comparação aos produtos de fora.

 

- A fuga de cérebros – Assim é chamada a saída de trabalhadores altamente qualificados dos países pobres para os países mais desenvolvidos. Essa mão de obra altamente especializada vai atrás de salários mais atrativos e melhores condições para o desenvolvimento do seu trabalho.






1Privatização ou desestatização é o processo de venda de uma empresa ou instituição do setor público para o setor privado. Geralmente isso é feito através de leilões. Para os que defendem essas medidas, isso traz maior eficiência pois as empresas privadas buscam sobretudo o lucro e não são atingidas pelos esquemas de corrupção montados pelos políticos. Isso faz parte da corrente de pensamento econômico neoliberal, que defende que o Estado deve ser mínimo, atuando apenas em setores essenciais à população, como educação, saúde e segurança.