Diversidade Étnica e Mito da Democracia Racial
A diversidade étnica e a questão racial
A população brasileira é formada por três tipos étnicos básicos: os indígenas, o branco e o negro africano. No século XX, mais um grupo étnico veio participar da formação da população brasileira: os asiáticos (japoneses, chineses, coreanos etc). A miscigenação desses grupos étnicos deu origem a diversos grupos mestiços ou a uma grande diversidade étnica.
Perceba bem que estamos usando a expressão grupo étnico e não raça. Etnia corresponde a um agrupamento de pessoas cuja unidade repousa na comunhão da língua, cultura e consciência grupal. Raça, expressão já utilizada de forma bastante triste no passado, é hoje considerado impróprio, pois a ciência já constatou que em sentido biológico, não existe.
As ciências, notadamente as ciências humanas, no final do século XIX e ao longo de boa parte do século XX, procuravam explicar as diferenças de desenvolvimento entre os povos através das diferenças raciais. A superioridade racial de um povo em relação a outro justificaria assim a dominação das “raças superiores” sobre as “raças inferiores”. Cabiam aos geneticamente mais privilegiados levarem a cultura e a civilização aos menos afortunados povos “racialmente inferiores”. Era uma forma de mascarar por trás de uma suposta ciência racial os interesses de dominação espacial, social e política. O imperialismo europeu que dominou a África e a Ásia é um exemplo disso. Nesses dois continentes, as potências europeias do final do século XIX a meados do século XX se apropriaram a força do espaços geográficos nativos, explorando recursos naturais e mão de obra, deixando para trás países hoje economicamente e socialmente desorganizados e pobres.
Kevin Carter tornou-se célebre ao documentar a fome na África. Sua mais famosa foto, vencedora do prêmio Pulizer de 1994, mostra a inanição de uma desnutrida menina sudanesa, observada por um abutre a pouca distância.
Aqui no Brasil as ideias raciais chegaram com força entre o final do século XIX e início do XX. Pensadores importante da época defendiam que estávamos sofrendo um processo de degeneração genética com a miscigenação e “escurecimento” da nossa população. Essa mistura, diziam eles, iria aos poucos acabando com a superioridade genética do sangue branco que estava sendo poluído. Acho que você lembra de ideias bem parecidas com essas quando estudou o Nazismo alemão e sua política de pureza racial.
Cartaz que ilustra a suposta superioridade da raça ariana
O estímulo à migração europeia para o Brasil na segunda metade do século XX tinha dois objetivos por parte das autoridades: suprir a necessidade de mão de obra, carente desde o fim do tráfico negreiro em 1850; embranquecer e “melhorar racialmente” o nosso povo, evitando assim a temida degeneração racial.
Mito da Democracia Racial
No passado, e até nos dias de hoje, se utilizou da grande miscigenação da população brasileira para se afirmar que sempre existiu por aqui uma “democracia racial”. Isso é um mito que tem por função obscurecer a realidade. Procura-se assim disfarçar o preconceito de cor, em relação ao indígena, ao mestiço, ao mulato e sobretudo ao negro.
Para constatar a ideia de que a democracia racial é uma mentira não precisamos de pesquisas prolongadas e nem de estudos estatísticos complexos. Basta um simples passeio pelas periferias pobres do país ou uma breve visita a qualquer instituição carcerária que iremos constatar a quase predominância de negros e pardos.
Democracia racial é uma grande mentira que dá a falsa ideia de que no Brasil, como por milagre, escapamos do racismo e da descriminação racial vista em outros países, como nos Estados Unidos. Talvez esse racismo negado, velado e escondido que temos no Brasil seja até mais cruel, pois torna-se mais difícil de se combater quando o “inimigo” camufla-se, evitando ser assim reconhecido.
A maioria dos brasileiros não se considera racista, no entanto muitos, de forma consciente ou inconsciente, praticam esse racismo em seu dia a dia. É o policial que aborda sempre os de pele mais escura por serem considerados suspeitos. É aquela pessoa que se defende de ser racista dizendo orgulhosamente que “tem até amigos negros”. Ouvimos até pessoas que ao quererem elogiar um negro falaram ternamente “fulano é um negro de alma branca”.
A sociedade brasileira está impregnada de racismo aberto ou dissimulado. Devemos combater todo tipo de discurso que venha com a ideia de que não há preconceito racial no país pois como já diz a música “todo camburão tem um pouco de navio negreiro.